Monday, September 25, 2006

We are really small



Queria agradecer-vos.
Pela vosso estimulo, a energia boa que me dispensaram para eu trazer comigo nesta viagem, mais que viagem, nesta empresa.
Nao esta a ser facil...
A procura de casa, o emprego que tardava em aparecer, o dinheiro que trouxe a acabar, a falta que sinto da seguranca do afecto dos amigos...
Na minha ingenuidade e imaturidade julguei que viesse a ser mais facil, que as coisas me fossem simplemente acontecer.
Ha que respeitar o tempo... bem, nao me posso queixar da sorte ( tenho sitio onde ficar ate encontrar um espaco de que goste, arranjei trabalho e vou as aulas).
Tive, no entanto, de aceitar que o ritmo a que as coisas nos surgem e-nos, em parte, transcendente.
Pensei em desistir. Em abreviar o percurso. Em voltar por mais uns tempos.
E dramatico quando vemos questionada a fluidez da concretizacao de um projecto, ainda mais quando a fluidez sempre me tinha sido sinonimo de que o caminho que batia era o certo.
Quais sao os limites? Ate que ponto e legitimo aceitar ou requisitar o apoio que os outros nos podem disponibilizar, mesmo quando esses outros sao os nossos pais? Como ler as mensagens que os acontecimentos nos vao transmitindo? Ate que ponto nao entrevemos apenas o que queremos nas entrelinhas do que nos acontece?
Pela primeira vez na minha vida o silencio era imenso, cortante e a minha voz nao emitia nem um som.
A minha mae pedia-me que voltasse.
As pessoas que melhor me conhecem diziam-me que esgotasse todas as alternativas.
Acabei por ficar e nao foi coragem minha, foi a vida que me fez um favor de comecar a correr-me melhor.
Nao ha nada de corajoso no meu gesto de ter vindo atras de uma perspectiva de vida diferente do que eu ai teria ou terei, se voltar. Nao nesta fase do campeonato.
Foi um tiro, um tiro no escuro, uma confianca cega na sorte.
Inconsciencia.
Por outro lado, pode ter sido agora ou nunca.
Acho que nunca vou conhecer a resposta desse dilema.
Os designios insondaveis do curso da vida...
Fiquem com o clip final de uma das melhores coisas ja mais feita para televisao, a serie Six Feet Under.
Nao calculam como as imagens da Claire, a personagem que atravessa a America em direccao a Nova Iorque, me tem acompanhado.
A viagem e a metafora da vida, a forca que imprimimos as nossas accoes na direccao do que desejamos concretizar.
As coisas que deixamos pelo caminho.
O que voltamos para recuperar.
O que nos faz voltar aos nossos sitios.
O que deixamos de viver pelas escolhas que fizemos.
O que passamos a viver.
Viajar e uma forma produtiva de agir, amar e outra, dar tambem, criar, estar...
O conselho que tenho para vos dar, a partir do pouquinho que vivi por ter entrado naquele aviao: que facam, sejam, acontecam, sintam-se pequenos como esta letra da Sia nos inspira a sentir e nunca, nunca, tenham medo de o sentir.
Todo o ser humano existe em funcao do proximo.
Distantes, proximos, na memoria.
...Be my friend
Hold me,
wrap me up
Unfold me
I am small
I'm needy
Warm me up
And breathe me...

girl with a dove

Girl with a dove, PICASSO


uma escapadela a National Gallery resultou no encontro com este quadro, cujas cores anunciam a aproximacao de Picasso ao Periodo Azul.
identifiquei-me com esta menina.
hoje, porque me sinto mais pequena.
sempre, porque contem protege envolve, nas suas maos diminutas.
e com toda a humildade, a pomba branca e o seu amor pelos homens e mulheres que conhece e aqueles que nao conhece.
reconhecam-se nela.

Sunday, September 24, 2006

"I know someday you'll have a beautiful life, I know you'll be a star... in somebody else's sky, but why... why... can't it be, can't it be mine?..."

Black - Pearl Jam ao vivo, 5 de Setembro de 2006 em LISBOA

http://www.youtube.com/watch?v=ID33OUSAey8&search=pearl%20jam%20portugal%20rockin%27%20RIFWorld%20live%20pavilhao%20atlantico

Quem não foi... devia ter ido!

Já agora... a Xaritxa adora esta música! Lembras-te quando a cantámos como malucas no carro, todas juntas?... :)

Thursday, September 21, 2006

Quando a linha não é plana...

Hoje, num telefonema sobre algo totalmente diferente, ouvi o relato de uma história que me fez perguntar, lembrando um anterior post aqui escrito... e quando a linha não é plana mas sim uma linha vertical em direcção ao vazio, numa fuga desenfreada de algo que não entendemos mas que ele sente tão forte, tão presente, tão intenso?...
Ele, um jovem que despertava em mim a vontade de estar, de ajudá-lo. A vida não foi fácil com ele e ele não foi fácil com a vida. Ganhou tantas batalhas, mas ao perder as forças perante uma batalha apenas, tudo desmoronou e optou por um caminho que não teve retorno.
Não queria estar na vossa pele hoje, assistindo a tudo. Não queria ter de rever essa imagem na minha cabeça vezes sem conta. Não queria sentir a sensação de impotência que devem ter sentindo.
Queria, como vocês, poder ter feito mais por ele.
Mas fizemos tudo o que pudemos...
"Tive várias conversas com ele e ele teve uma vida trágica... A morte não foi diferente..."
Duras palavras de quem nunca pensou confrontar-se tão cedo com algo assim. Eu, à distância de uma folga, também o senti. Pensamos estar preparados para tudo, e percebemos a nossa pequena dimensão quando tudo acontece à nossa frente. E lembramos-te hoje e talvez sempre, porque tudo aconteceu assim. Não quero. Quero lembrar-te como alguém que não teve uma vida fácil e que tentámos ajudar, como todos os outros doentes que cuidamos, mas por quem sentia um carinho especial. O teu bilhete de saída para o mundo, perdeste-o, entre sedativos e conversas incoerentes. Entretanto, o mundo perdeu-te a ti também.
"Batem as portas, em tons de suicídio, como se fossem um corpo a cair do nono andar..."
(Daniel Sampaio, Tudo o que temos cá dentro)

Saturday, September 16, 2006

Mais perto


Depois de tantos sentimentos passados para palavras, quero (porque também sinto já a tua falta) escrever um pouco sobre nós.
Ainda que não pudesse estar perto de ti para partilhar os breves momentos que antecederam a tua partida, quero que saibas que muitas vezes nestes dias os meus pensamentos se focaram em ti, nas palavras que me disseste dias antes.
Acabas de fazer algo de extrema coragem, perseverança e amor. Coragem que a mim me falta, perseverança por buscares aquilo em que acreditas, amor pela arte, pela tua verdade, pela vida.
Quero que saibas que compreendo o que me disseste, os receios de que falaste. Acredito que vais conseguir dar a volta a todos eles, dado que és uma das pessoas extraordinárias que conheci.
Aprendi tanto contigo, Sara... E quero continuar a aprender, a viver.
Ainda que fisicamente longe, continuas muito perto. De mim... e de todos nós!
Um enorme beijinho para ti, meu e do João***

PS - Com que então tinha a capa do Super Homem??? :)

Thursday, September 14, 2006

"...Como se ao me dares a tua mão, um pouco do que sentes passasse..."

Não há tempo que pare e congele o momento que queremos guardar sempre connosco... não há porque o tempo não se rege por um relógio ao qual podemos tirar a pilha.
Gostávamos, provavelmente todos, de o ter feito, permitindo que ficasses num momento mais prolongado connosco. Queriamos-te aqui, com o teu cabelo loiro, encaralocado, as tuas conversas que nos punham a pensar, o muito que sabes deste mundo, a forma especial como o vês. Queriamos-te aqui, ao nosso lado. E tu partiste...
A vida diz-me que a mudança é o motor que nos faz crescer, que nos empurra mais longe, que nos dá força para sermos nós, sem mais, "porque podemos".
Mas custa também. Sentimos um abismo debaixo de nós proque não sabemos se ao cairmos temos um imenso oceano prestes a aconchegar o nosso mergulho e nos permitir voltar à superfície e desfrutar do momento, ou se temos uma rocha enorme onde iremos bater com a cabeça. Mas arriscamos... "porque nos atrevemos".
A tua ausência é a tua presença constante porque estás aqui connosco sempre. As vidas tomam diferentes rumos mas quem é, é. Quem é não se vai embora, a quem é não dizemos "adeus", mas "até já". O tempo passará e as conversas serão as mesmas, parecerá que o tempo parou então para nós, para nos guardar e guardar o que somos... entretanto teremos todos vivido tanto, seremos mais, estaremos mais "cheios"... mas seremos os mesmos parvos que se juntam para contar aquelas piadas sem graça mas com as quais nos rimos imensamente...
O meu "até já", repleto da saudade de quem sabe que serás de novo grande, aí, em terras britânicas, lembra agora o que nos tornou quem somos e recorda as seguintes palavras:
"como se ao me dares a tua mão, um pouco do que sentes passasse".
Disseste-mo uma vez... e hoje sinto que as nossas mãos se unem sempre nos momentos bons ou maus, na proximidade de um abraço e de um olhar cúmplice, ou na distância de um pensamento.
Até breve...